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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

On the Road

Finalmente, depois de muita enrolação li o consagrado livro "On the Road"(Jack Kerouac), famoso por inspirar a geração dos meus ídolos, tais como Jim Morriosn e Bob Dylan..

O livro já foi citado antes no Herbáceas no post "Vagabundos Geniais" do Xedar, e agora eu deixo um trecho do livro em que o autor descreve um bar de jazz em "São Frascisco", se não me engano, que me deixou admirado:


"Mergulhamos na noite cálida e louca, ouvindo um sax-tenor incrível que soprava o trajeto inteiro, fazendo: “Iii-yah! Ii-yah! Ii- ah!”, batíamos palmas ao ritmo do jazz, e a rapaziada gritava: — Vamos, vamos, mos! — Dean já estava correndo pela rua com seu dedo suspenso no ar, aos gritos: — Toque para a frente, homem, para a frente! — Um bando de negros, em roupa de sábado à noite, armou um burburinho na entrada da boate. Era um saloon ordinário e empoeirado, com um pequeno tablado no fundo que servia de palco; os rapazes se acotovelavam lá em cima, com os chapéus enfiados até a altura dos olhos, tocando jazz acima das cabeças a platéia, um lugar louco; mulheres muito doidas, desleixadas, circulavam com oupões de banho, garrafas rolavam e se chocavam nos becos. Nos fundos do bar, num corredor escuro além dos lavatórios destroçados, homens e mulheres em grupos se escoravam nas paredes, e bebiam vinho barato cuspindo sob as estrelas — vinho e uísque. O maravilhoso saxofonista soprava até atingir o êxtase, era um improviso plenamente soberbo, com riffs em crescendo e minuendos que iam desde um simples “ii-yah!” até um louco “ii-di-lii-yah!”, flutuando com furor e acompanhados pelo rolar impetuoso da bateria, toda queimada por pequenas baganas fumegantes, e martelada com fervor por um negro brutal com pescoço de touro, que estava pouco se lixando para o mundo exterior, apenas surrava ininterruptamente seus tambores arruinados, bum-bum, ti-cabum, bumbum. O alvoroço causado pela música, a confusão sonora, uma cascata de notas, mas o saxofonista dominava a situação, todos estavam vendo que ele a dominava. Dean segurava a própria cabeça no meio da multidão, e era uma multidão muito louca. Todos imploravam, aos gritos e com olhares desvairados, para que o saxofonista mantivesse o mesmo ritmo, e ele se contorcia, se inclinava até os joelhos, e voltava a erguer-se com o sax, combinando esses movimentos com o lamento agudo que flutuava acima do furor incontido da platéia. Uma negra alta e magra sacudia seus ossos desengonçados, e quase se atirou dentro da abertura do sax; o saxofonista limitou-se a afastá-la usando o próprio instrumento. “Ii-hii-hi!”

Naquela balbúrdia, todos se balançavam, bramiam, bagunçavam. Com copos de cerveja nas mãos, Galatea e Marie permaneciam sentadas em suas cadeiras, saltitantes, agitadas. Negros, em gangues comprimidas, tentavam entrar no bar, tropeçavam uns nos outros. — Segure as pontas, rapaz! — berrou um sujeito com voz de sirene de nevoeiro, e depois soltou um urro que deve ter sido ouvido até em Sacramento, ah-aah! — Uau — disse Dean. Alisava o peito, a barriga; o suor gotejava grosso de sua cara. Bum-bum, tica-bum, aquele baterista estava soterrando sua bateria, e mantinha o ritmo flutuando no ar fumacento da sala com a força assassina de suas baquetas, tica-bum! Um gordão imenso dançava aos saltos no tablado, fazendo-o vergar e ranger. — Iiiu! — O pianista
apenas triturava o teclado com as mãos em garra, e ouviam-se acordes fortuitos, lançados nos intervalos em que o incrível sax-tenor tomava fôlego para outra explosão — acordes chineses, que faziam o piano estremecer inteiro; o madeirame, nhec; as Cordas, boing! O saxofonista saltou do tablado e se misturou ao público, soprando Como um louco; seu chapéu estava caído sobre os olhos, e alguém o arrumou para ele. Ele pulou de volta para o palco, marcando o ritmo com o pé e soprando uma nota rouca, áspera, ferina, e tomou fôlego, e ergueu o sax e soprou ainda mais forte, mantendo o som suspenso sobre cabeças inquietas. Dean estava exatamente à frente dele, com a cara quase enfiada dentro da boca do sax, batendo palmas, pingando suor nas chaves do sax, e o cara percebeu e gargalhou com o sax, uma longa, louca,trepidante gargalhada musical, e todos os demais riram e requebraram e balançaram os quadris, e finalmente o saxofonista decidiu explodir com tudo, dobrando-se inteiramente e mantendo um dó suspenso no ar por um longo, longo tempo, enquanto todos enlouqueciam e os gritos aumentavam mais e mais, e eu pensava que a polícia mais cedo ou mais tarde invadiria o bar, vindo da delegacia mais próxima. Dean estava em transe. Os olhos do Saxofonista estavam pregados nele. Afinal, ali à sua frente estava um maluco que não apenas entendia tudo aquilo, como também se interessava e queria entender mais, muito mais do que o que acontecia naquele instante; e assim, duelaram; uma cascata sonora jorrava daquele sax; não eram mais simples frases musicais, mas gritos, bramidos, uivos, gemidos: “Boohh”, baixando para “Biihii”, e voltando a subir até “Hiiiii”, retinindo, tilintando, ecoando em sons laterais de um sax incontrolável. Ele fez de tudo, tocou inclinado para cima, para baixo, para os lados, de ponta-cabeça; na
horizontal, torto, e finalmente caiu duro nos braços de alguém, desistindo;todos se acotovlaram em torno do palco e gritaram:— Yes! Yes! Ele conseguiu! Dean enxugava o rosto com seu lenço."

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