Desespero Ideológico

Palavras escorrem desta mão que vos escreve e se espalham por estas páginas alvas, esperando que minhas ideias se manifestem, através desta fatigada mente, cansada de um longo dia desimportante.
Procuro nas palavras dos sábios, filósofos, profetas e eremitas. Não acho. Chego ao desespero. Clichês, tablóides e pequenas e insignificantes digressões já não me inspiram.
O tempo passa.
Nunca uma falta me foi tão grave. Ficar sem ar, alimento ou um ente querido é tolerável. Mas a falta de ideias é absurdamente inquietante e dolorosa. Inconformado, ligo um toca discos. O problema é realmente incomensurável. Nem as palavras de Belchior ou Jim Morrison, que antes me bombardeavam de sentimentos e que faziam a minha massa cinzenta produzir os mais esdrúxulos pensamentos surtem efeito.
Seria essa minha sina? Um dia inteiro, sendo martirizado, segundo a segundo. Minha epopéia vai tendo fim, à medida que o sono vem e me joga na cama.
Um último segundo, uma última decepção.
Click, uma ideia. Tarde demais, Morfeu me acolhe em seus braços e a minha tão ansiada ideia, já não tem mais utilidade, e nem importância.